quinta-feira, 29 de maio de 2008

Distância e envolvimento

Afastei-me durante largas semanas deste pequeno recanto,desta distância sobra-me a sensação, ao voltar, que ele precisa de uma lufada de ar fresco, não somente um relook - qual artimanha de fast-designing - mas uma verdadeira (trans)mutação, reflexo esse do dealbar de um novo ciclo na minha vida. Das notícias, leituras, filmes, peças de teatro e demais turbilhões de vida de que fui espectadora desde a minha última entrada neste blogue devo assumir que nenhum deles, aliás, minto, 1 deles apenas me fez como que uma exaltação de pensamento. Em bom tom deveria citar aqui Ortega y Gasset...e como para bom entendedor meia palavra basta, vou estar longe mais uns tempos (de exames, entregas de trabalhos e subsequentes stresses pós traumáticos) e aí voltar de vez. Para um novo ciclo.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Auto e hetero-avaliação ao "estado da arte" da comunicação social em Portugal

Diz-se : " O jornalismo português está assim: solene e engravatado rendeu-se às vantagens do poder e à propaganda da maioria" Constança Cunha e Sá IN Público. ...Suponho ser pandemia que se estende a outros grupos profissionais também, infelizmente temperado com ironia, visto serem aqueles que sempre foram considerados sensíveis às defesas das liberdades pela desocultação das (o)pressões exercidas pelas exigências arbitrárias do poder estabelecido, enfim aqueles de quem se espera uma mobilização activa a favor da democracia. Bom, em tom de pseudo-campanha bloguística, sou tentada a legendar este "ar do tempo" com um antigo slogan popular e popularizado pelos medias, este que parece traduzir mais que "estado da arte" um "estado d´alma" incrustado em terras de contínuas crises económicas: " A tradição já não é o que era" ... e assim tudo o vento leva para não restar nenhuma dúvida de consciência sobre... lapsos de responsabilidade e de ética, por exemplo

terça-feira, 18 de março de 2008

Campanha de reificação contra a homo/transfobia

Apelo à reflexão, quanto mais não seja aquela que é feita para com os próprios botões....(clicar na imagem para aumentar e ver a campanha)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Resultado Rosa nas eleições municipais francesas

Os franceses votaram e os resultados saíram dando uma nega à UMP de Sarkozy! Para além da vitória nacional para o PSF resta que alguns dos municípios franceses estão actualmente também representados por lusodescendentes...afinal um vitória ao pleno exercício da cidadania! O que se seguiu no Eliseu após a saída dos resultados?!? O Sr. Sarkosy remodelou imediatamente a sua "célula política", pois pelos vistos a falha não reside nas suas políticas quasi autistas, mas antes, apenas daqueles que modelam e difundem as mensagens, responsáveis pela FORMA da política e daí pela "provável deturpação" inerente ao lapso de compreensão entre intuitos da UMP e condições de recepção do público, ou se preferirmos e apelando ao uso de um vocabulário ajustado ao tema - actual e potencial eleitorado - O que menos parece interessar aos actuais governantes é o conteúdo das políticas, pois após frustrações de expectativas eleitorais, as cabeças que rolam são sempre as mesmas, pertencem sempre aos assessores de comunicação e cultura dos partidos, ou neste caso, da Presidência. É caso para perguntar que se os governantes imputam com tanta convicção a culpa da sua ineficiência aos assessores de comunicação, então a quem se destinam os louros das vitórias?! Parece-me existir aqui um profundo desfasamento na hierarquia dos princípios do exercício político, uma incongruência que privilegia a forma das mensagens políticas em desfavor do essencial conteúdo das mesmas. Uma curiosidade: o assessor da comunicação e cultura da Presidência francesa, que segundo o próprio, se demitiu esta segunda feira após os resultados eleitorais de ontem, é o escritor e argumentista Georges-Marc Benamou, próximo de Mitterand e ele mesmo um convicto homem de esquerda...um dos seus próximos projectos é a adaptação para cinema do romance próprio "o Fantasma de Munique", sob direcção do Milos Forman. É caso para dizer que estas múltiplas facetas, funções, cores e papéis rondam as proximidades das Ligações Insólitas.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Elogio ao feminino

Confesso que não tive tempo de postar no dia 8 de Março, data legítima de comemoração do dia da mulher. A continuar com confissões, admito que também me questionei sobre a pertinência da existência de 1 dia no calendário para a mulher...será lugar comum adiantar que estes dias deveriam ser comemorados diariamente e não apenas como data "sacralizada" por um ritual de agenda mediática e politica. Estarei eu a confundir situações, aspectos e a inverter as plausibilidades das reivindicações de um grupo social historicamente discriminado?! Não creio, e de facto longe de mim está essa intenção, apenas gostaria que a reflexão sobre as desigualdades e falta de paridade entre sexos se alargasse aos restantes 364 dias do calendário anual, sobre a forma da concessão de direitos mais amplos na esfera do trabalho, por exemplo. Penso nas acrobacias diárias que muitas mães trabalhadoras realizam nos seus quotidianos, e que suplantam os actos heróicos, as defesas patrióticas das liberdades ou o glamour trágico, pintados nas biografias de algumas figuras públicas que a comunicação social evoca, repetitivamente , ano após ano, nas comemorações deste dia! Pois ...me dirão que a foto que aqui acompanha este comentário, também não ilustra a condição das rotinas femininas, o que é certo e certíssimo e, concerteza interessante e revelador que a própria imagética sobre a Mulher é sempre fortemente encorpada por uma série de signos representativos de arquétipos (ora complementares ora conflituais) e que neste quadrante valorativo seja dificil a mulher real, eu, nós, todas (ao contrário daquela idealizada) se afirmar como identidade reconhecida. Engrenagem civilizacional....diria talvez um Elias em tom humorístico e leve :) A ler brevemente: "A Terceira Mulher" de Lipovetzki Mas muito importante, aliás mais que simplesmente importante: um grande beijo e abraço para duas mulheres muito importantes na minha vida: a minha mãe e a minha avó Celeste:). Outro grande beijo para todas as minhas amigas, pois elas são talvez as irmãs que eu nunca tive ;) e para quem nem sequer imagina que também tem lugar aqui*. (Espero que a pulga não se lembre de comentar isto lol). P.S. na foto a Nasstaja Kinsky, no pós "Cat People" , fotografada pelo Avedon.

domingo, 2 de março de 2008

"Momentos musicais" by Simonal

Deixo aqui um elogio ao Simonal que, mais uma vez, surpreendeu ouvidos e olhares com novas formas de criar música. A informalidade e algumas inconveniências do espaço, mesmo essas, foram espontânea e naturalmente dissipadas naquele jeito mesmo de ser músico que torna o Simonal inconfundível...andam a desconcertar-me bastante ultimamente, ou andei eu cega e surda durante algum tempo?!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Amore e Rabbia: o Evangelho segundo "lo Santo Cinema Italiano"

Para além das aulas (retomadas) na Flup, existem uma imensidão de outras eventos que por lá ocorrem. Claro, ninguém é ubíquo, fazemos escolhas diárias e a todo o instante, e nesse lugar a Sociologia é a minha prioridade...mas é sempre uma delícia assistir aos ciclos de cinema realizados pelos vários departamentos ou institutos da FLUP ( um lembrete para "la Chinoise" de Godard, amanhã, no Auditório, as 19h30). Este post serve então duas funções, primeiro, divulgar e sensibilizar os frequentadores anónimos ou assumidos deste recanto rosa das "mil e uma delícias" em formato cinematográfico incluídas na programação cultural da Flup (sublinho desde já as minhas saudades do FiTaS), como, em segundo, abrir a curiosidade para algum do cinema seleccionado pelos departamentos e assim divulgar o conteúdo das mostras. Esta noite, o núcleo do cineclube italiano (composto e organizado por um conjunto de pessoas de algumas faculdades da U.P, nomeadamente Belas Artes) apresentou a sua terceira sessão, num contínuo elogio ao cinema italiano. AMORE E RABBIA, é uma película composta por 5 pequenos discursos ou reflexões acerca de 5 parábolas bíblicas para a contemporaneidade, cada uma sob o olhar de 5 cineastas: Lizzani, Bertolucci, Passolini, Godard e Bellochio - cada cineasta aqui também é autor do respectivo argumento. - Lizzani - L´Indifferenza -aborda o tema da dádiva e da boa acção à escala da frieza, anonimato e individualismo, característicos dos contextos urbanos - a escolha de contextualização recaiu na sobrepovoada "Big Apple", Nova Iorque. - Bertolucci - Agonia - numa analogia à parábola da Figueira Estéril, simplesmente fascinante: Um bispo (protagonizado por Julien Beck) está às portas da morte...numa espécie de catarse à vida, ele é envolvido numa performance (protagonizada pela companhia The Living Theatre, lanço aqui uma mensagem à minha amiga "VisionaryAwaits": em sentido lato este também é o meu teatro de eleição :-) ), que mimetiza os momentos que conduzem a nossa existência terrestre, confrontando organicamente, pela gestualidade e movimento do corpo, na entoação dos auto-retratos, um Outro, o outro corpo, débil, enfermo e, doente já ofegante por respirar fora da sua matéria física. A aproximação à morte é assim pautada por um ritual em que se expugnam as resistências à natureza da condição de todo o ser vivo. A figueira mesmo que estéril numa estação do ano, não é decepada, arrancada à natureza...ela dará frutos em Outra Estação, quase que sou tentada e acrescentar: deixai então vir o tempo no seu atempado caminho. Este foi um dos 5 momentos do Amore e Rabbia que mais me marcou, confesso-me hipersensibilizada (novamente) pela suprasensibilidade, mais que estética, diria poética de Bertolucci. Genialidade?! sim, sem dúvida, pela espontânea capacidade de desconcertar (a emoção). - Pasolini - La Sequenza del Fiore di Carta - fala da inocência, colocando-se a questão da virtude ou duma aproximação perversa duma das suas possibilidades, à qual muitas vezes, aquela empresta nome para preservar consciências de classes, distanciamentos e desigualdades sociais: o alheamento à violência e injustiça, a acrítica aceitação e passividade do que não pode ser tolerado nem ocultado. - Godard - L´Amore - Único cineasta francês que sob um título italiano, compõe esta sumptuosa composição. Não precisei que esta foi apresentada na 19ª edição do Festival de Berlim, em 1969, precisamente após o conturbado ano corolário dos manifestos estudantis e de outros movimentos sociais, pelos EUA e pela Europa. Debate-se o amor, a (im)possibilidade da sua ocorrência quando protagonizado em eixos opostos do antagonismo de classes...a democracia é realizável com a revolução?, pergunta-nos Godard pelo diálogo do enamorado à sua amada burguesa. Diálogos bilingues, um fala francês repetindo o que o outro diz em italiano, e inversamente, numa clara metáfora ao entendimento mas em linguagens diferentes, sujeito então às inevitáveis deturpações semânticas, imaginamos o assombro do silêncio e ruptura entre classes. - Bellochio - Discutiamo, Discutiamo -último filme da sequência explora com a ideia de uma revolta estudantil na reputada década de 60, no mundo universitário italiano, em que aos manifestos e argumentos de estudantes de esquerda, se opõem o corpo académico, polícia, sociedade civil e homólogos colegas...de direita.
Lanço o convite para a próxima sessão organizada pelo cineclube italiano: dia 11 de Março com L´Innocente de Visconti. Comentário meu garantido na noite mesma :-).