sábado, 6 de outubro de 2007

Paulo e Leonor de mãos à Obra

Malgré Nous, Nous Étions Lá...eis o nome da performance apresentada ontem pela companhia Paulo Ribeiro no TNSJ, numa mostra com apenas 2 espectáculos marcados nesta casa (esta noite será a última). Tinha o acto marcado na minha agenda já desde o passado dia 13 de Julho e não posso deixar de comentar o que foi a experiência de ver um casal de interpretes/coreógrafos no palco, que afinal se projectou na árdua tarefa de retratar os meandros da sua relação de 12 anos...projecto que segundo a Leonor "oscilou sempre entre a perfeição e o desastre (...) o desastre - sempre esteve iminente - o desastre era não fazer, e isso esteve sempre para acontecer". Ela fala de despudor. Eu acrescentaria, dando voz ao meu papel de espectadora: generosidade. Contradições?!Ela diz que sim tal e qual ao reflexo de ambos. Apoio, provocação, equilíbrio, desequilíbrio...está aqui o quarteto de "conceitos" que em dialéctica, dão forma aos momentos da coreografia. Em primeiro o uso conjunto do chão, o comprimento em profundidade do apoio. Segundo, a verticalidade dos corpos, a individualidade em duelo projectada na provocação mútua (cheia de humor, claro)...altura. O equilíbrio, pelos movimentos ora em dueto ora em plena demonstração orgânica a solo (gostei particularmente da decomposição geométrica dos movimentos da Leonor que revelam a sua grande capacidade técnica). Desequilíbrio....uma caixa de música, Leonor tem os pés pousados em cima de um livro bastante maçudo. Sentada olha para o Paulo. Deitado, de cara contra o chão, bate com as palmas neste...procura abrir portas. Reflexão intensa. Retoma a postura vertical da invertida (óptima para quem muito, digamos que o Yoga defende as suas virtudes no processo do brain refreshment :). Voltamos ao inicio do ciclo, afinal não há síntese que não se sujeite ao principio da dialéctica. Outro ponto a acrescentar (aqui), os outros ficam nos meus apontamentos extra-bloguísticos, tanto o Paulo como a Leonor tiveram esta incrível vontade (que não existe sem necessidade) e capacidade de se revelarem intimamente - diante do outro também - à qual de igual modo conjugaram uma assumida e diga-se franca, honestidade, para desconstruirem um pouco os fundamentos da, tantas vezes, asfixiante "artilharia" teórica que acompanha (como pretensão de legitimação?!) os trabalhos dos criadores. Ah, gostei de encontrar o Tiago e respectiva cara metade...bem vindo sejas à sociologia :)

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