domingo, 17 de dezembro de 2006

A Maldita Aspirina no Rivoli

Baptismo de Blog: no jornal Público de hoje é notícia que a La Féria será entregue a gestão do Teatro Rivoli por um período de 4 anos, a iniciar em Maio de 2007, extinguindo-se por esta ocasião a Culturporto. La Féria no Rivoli era uma estória que já me tinha chegado aos ouvidos (como à de todos os que logram ter o sentido da audição, aliás) , mas o que mais risos e quase lágrimas me provocou nesta azáfama do Sr. Presidente Rui Rio - (ou melhor, "Sr. Dr." porque a bom português de mentalidade provinciana um título se impõe - "Major" é uma excepção no panoramo nacional) - em querer rentabilizar e não desperdiçar o dinheiro dos contribuintes foi constatar pela possível e provável programação sugerida por La Féria uma clara "aposta nas grandes produções", já tendo o produtor/encenador em mente para estreiar uma mega produção sobre a vida e obra de Carmen Miranda...sim, isto é deveras cultura e tal projecto não está desenquadrado do espaço ao qual se pretende destinar MAS 4 ANOS consecutivamente seguidos de "grandes produções" ao estilo La Feriano é sem dúvida alguma uma ofensa às diversas matizes e correntes artísticas que vivem e dinamizam a cena cultural da cidade como de igual modo um decreto de enfermidade permanente para quem sofre de enxaquecas agudas. Ora então Rui Rio e como disse o próprio a Judite de Sousa, não é contra a cultura, de todo (!!!), mas tem dela uma ideia singela, enviesada pelos numeros das receitas, constrangida pelo orçamento da camâra e envolta em lógicas de procura e oferta nebulosamente descritas pelo próprio . Simplesmente para o senhor, dá-me a entender pelos actos e já para não acrescentar pelas definições e reticências, que cultura é somente aquilo que é apelativo ao consumo massificado (perdoem-me, mas não resisto) e repelente ao bom gosto, isto é à virtude, apreço e curiosidade de ver e querer ver cultura na pluridimensionalidade que lhe é intrínseca. Ao minimizar o olhar dos portuenses, vendando-lhes a possibilidade de experienciar companhias de dança/teatro contemporâneas nacionais e internacionais subjaz uma consequência para o descrédito do Porto como cidade jovem e cosmopolita. Pela imposição de uma programação escolhida unicamente sob critérios de rentabilidade, os portuenses perdem assim a liberdade/oportunidade de conviver com a artes performativas nas suas facetas mais contemporâneas pela perda de um dos seus espaços até aqui consagrados - o Rivoli.
Eram tempos aqueles, que em terras Lusas, antes de 25 de Abril de 1974, certos movimentos artistícos eram desprezados e escamoteados, volvidos quase 33 anos estamos perante aquilo que Nietzche chamava o eterno retorno, a História que se repete actualmente sob os códigos democráticos mas numa coincidência simbólica remanescente das antigas ideias e práticas ... Rivolição!!!

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois é... quem não gosta e não sabe o que é teatro adora esse Senhor. Neste cantinho pequenino, nós achamos que o que é mega é bom!Mas olhem que não, mega é: Grande!Grande festa! Grande noite!Grande bosta... Tudo em grande só aqui, no Portugal pequenino!

Anónimo disse...

desculpe dobrar o que escrever, mas para além da dança/novocirco o Rivoli e a Culturporto fazem e fizeram muito mais do que isso.

E é pena que a desinformação atire para opúblico que o Rivoli tinha audiências médias de 30 pessoas e espectáculos de tetaro alternativo, esquecendo, por exemplo o grande auditório.

A questão das contas que fiz chegar á CM do porto é outra. tem a ver com uma questão de negócio puro e duro.

Se a CM do porto gosta de negócio e não dá subsídio, deve demonstrar porque razão o Sr. La Féria é melhor do que os outros e quanto nos vai custar - ao Porto - alugar-lhe o nosso melhor teatro e único municipal.

Gostava que fossem públicas essas contas e todo o processo pois essa era a forma do público poder aperceber-se do que realmente se passou.

E Já agora, das contas do Sr. La feria e da CM do porto nos protocolos que se fizeram no anterior mandato do Presidente da CM Porto.

Como vê, até nem divergimos tanto assim.

E, por fim. Dr. não faz parte do meu nome, nem é cargo ou profissão. pelo menos para mim.


Mesmo para acabar:

Bom era que a sua opinião fosse divulgada, mesmo que dentro dos grupos de amigos, familiares e vizinhos, na net e nos locais de trabalho, pos só assim, talvez as pessoas se interessem por uma equipamento que é da cidade e cuja responsabilidade pela utilização e conservação nos cabe. O Voto não é a água de Pilatos

Rui Encarnação

Nádi_Arte_mis disse...

...Penso ter sido mal compreendi em alguns pontos: quando me referi, no post a dança e teatro contemporâneo não quis somente aludir às companhias "alternativas" (penso que um dia me dedicarei a escrever um post sobre esta adjectivo sujeito tão recorrentemente a descontextualizações)...sim, tem toda a razão a programação do Rivoli já foi plural, mas continuará ela assim com a gestão de La Féria, ou teremos nós aqui o segundo Politeama do país?!
Quanto à referência que fez acerca das contas, penso simplesmente que após a nitída, clara e demais mediatizada "preocupação" do Presidente da CMP para que o dinheiro dos contribuintes não fosse mal gasto, seria um acto de auto-credibilidade se ele as tornasse públicas.